Conse Bastos
Olhando para essa rua acho que ela vai dar no infinito, ou é uma rua sem saída? mas o que chama a atenção é a lâmpada, que nem está acesa; fiquei imaginando a noite e a lâmpada e as sombras das casas. Estou há meses com “o império da luz” na cabeça, escrevo guiada por essa luz, escalo longas paredes e me enfio em túneis sem saber o que tem do outro lado. A luz, essa luz me guia. Magrite, meu caro, quanto ferro retorcido, carcaças de animais, lama, folhas, detritos, margeiam essa rua! Sigo em frente e desemboco numa vila, uma igrejinha e uma escola que dormem no meio da noite sem lua. Meninas de mãos dadas em roda numa pracinha em frente a minha casa. Se essa rua fosse minha...Minha casa? Minha rua ? se essa rua fosse minha eu mandava desenhar, eu pintava, se essa rua fosse minha eu mandava avivar as cores do passado para trazer a este altar uma menina sem asas de anjo, uma menina vivendo o seu tempo de sombra, eu pintava todas as cores do seu mundo cinzento: a boneca de olho furado, panelinhas de barro, trapos sujos, palitos de fósforos riscados, tampinhas, botões, cacarecos. E assim eu poderia afinal começar uma história: era uma vez uma criança.
Exercício de Conse Batos para o
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