Quando Deus não tinha inventado ainda este tempo, Ele era como uma criança inconsequente ou uma velha excêntrica e vivia a varrer estrelas pelo infinito ou cambalhotar entre os elétrons que Ela criava e destruia, montava e desmontava, sem nenhuma pretensão ou responsabilidade, e Ele inventava o tempo, para depois fazê-lo retroceder, ou avançava-o até que o mesmo se consumisse em silêncio espetacular. E fazia o Ser e o Não-Ser, o Sempre e o Nunca, as milhares de formas da Reta e as infinitas possibilidades de curvas do Espaço. E encaixava infinitos impoderáveis como matrioshkas cósmicas, e desenrolava estruturas químicas de substâncias recém-nascidas. E não havia desperdício, porque não existia carência; e não havia tolice, porque a seriedade nasceu da dor e do trabalho, que ainda não existiam. E também não existia caos, mas uma outra espécie de ordem que hoje ainda subjaz nas entrelinhas da matéria e do pensamento. E na Sua eterna onisciência, quando Ela inventava o sono, sonhava com a sua mais bela criação... Mas infinitas eternidades se passariam até que Ele resolvesse criar este nosso tempo, e se havia alguma demora, não existia nenhuma dúvida. É que até que chegasse o momento, no não-momento, da criação do primeiro dia, Ela ponderava sobre todo o monturo e toda a sordidez que surgiria indiretamente das suas mãos pelas mãos do seus filhos, e sobre a loucura que era entregar o livre arbítrio, um poder tão imenso, para uma criatura tão instável como Adão. Ainda mais que Ele sabia o que seria feito desse dom: sob Seus olhos passavam as lâminas afiadas, misturas incandescentes, átomos em desintegração rasgando a carne inocente; passavam as amarras, correntes, grades e arames torturando espíritos livres; passava o riso sardônico, a maledicência, a calúnia, a execração pública dilacerando a alma do que pecou por ser um milímetro diferente dos demais. Ponderava sobre tudo isso sim, mas não vacilava, porque sabia que sua mais bela criação, menina dos Seus olhos divinos, só poderia revelar toda beleza e poder num mundo deformado por todos os nossos erros . E é por isso que, entre as infinitas possibilidades, Ela não fez o melhor e mais perfeito dos mundos, mas sim este aqui, o que mais necessita da presença redentora do Amor. E foi com esse pensamento que, de repente, Big Bang.
Jorge de Barros
AMIGOS, MALHEM ESSE TEXTO, POR FAVOR.
Onde entra o jegue Jeremias nesta história?
ResponderExcluirOs períodos longos e fala de parágrafos, tornam a leitura pesada, mas ao mesmo tempo estão muito bem contextualizados.
Tá meio Saramago isto.
ET. Adorei o título. Mui Bueno.
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