domingo, 18 de abril de 2010

Zabé da Loca




és como foi minha avozinha
lenço amarrado na cabeça
olhos grandes de olhar comprido
destes que devoram tudo com carinho
e cuidado
gente de granito e pés suaves
mesmo para trilha de pedras

muheres com dobras e rugas
quase uma centena de anos cansados
rostos com sombras
e o dedo com o osso apontado

mulheres de parar o vento com o silêncio
e mover pedras com o sussurrar
constroem casas com barro
cacimbas no seco
donas da terra e da água
e  aproximam o ventre do ar


senhoras que vestem o mundo
e tecem com os panos
e fiam o algodão das nuvens

ai que os anjos esfarrapados da caatinga
os anjos vaqueiros e pascentadores de bodes
os anjos moleques a tramar travessuras
os anjos de todas as partes e os afogados
e o louco poeta na margem da metrôpole

todos param para ouvir
um pedaço de cana soar as trombetas do céu

3 comentários:

  1. Este poema surgiu de uma tuitada do amigo Jorge de Barros.

    ResponderExcluir
  2. Lindíssimo...voou a minha imaginaçao ao longo da descrição...adorei!

    ResponderExcluir
  3. Você se superou.
    É isso que nós, poetas, sempre buscamos: superar-nos. Você pode considerar que conseguiu.
    Parabéns.

    ResponderExcluir

Não será tolerado nenhum tipo de ofensa, desrespeito, ou colocações em desacordo com as regras do blog ou algo do tipo... Criticar leitores ou falar mal da Taba e seus membros, aqui, nem pensar!