quinta-feira, 27 de maio de 2010

Babel

Marcos Roberto Moreira 27/05/2010



A cidade verticalizada

arranha a boca do céu com seus edifícios
– prisões de alto-padrão
que detém a classe média atrás das grades
para sua própria proteção –

Ali
crianças trocam a várzea
por quadras de cimento batido

casais entrelaçados
ronronam baixas gemidos
“Não faço barulho
as paredes têm ouvidos!”

E enquanto o espetáculo da via alheia passa
na vidraça da torre em frente
toda gente

empilhada

amontoada

busca sua individualidade
luta por privacidade
mantendo-se o mais distante possível

com “ois” desanimados no corredor
com “silêncios” intermináveis no elevador

nessa Babel hodierna
onde cada pessoa fala uma língua
sem a mínima vontade
de fazer entender



quarta-feira, 26 de maio de 2010

A saga dos que vêm de longe




Iracema Mendes Régis



Rosa, que veio de longe
Cara de boneca de pano
Corpo miúdo, desengonçado,
Dos mamulengos da terra.
Trepada no alto,
Espia a 22 de Novembro,
Quase esquina com a Av. Barão.
Ajeita o cabelo, faz unha de pé e mão.
Rosa, que veio de longe,
Não está mais sozinha –
Tem até marido e de noite dorme
Num cantinho só seu.
Caprichosa a Rosa
Faz as unhas da madame
E as suas também.
Corajosa a Rosa
Resiste ao calor do cubículo
Com a mesma graça
Das flores que viçam na praça.
Feliz a Rosa
A tardezinha desce!...
Na casa do Norte,
Envolta nos cheiros do fumo de rolo,
Da carne jabá, da cachaça, da rapadura,
Do pé-de-moleque e do requeijão,
Ela se abastece.

Cidade de Pedra e Argila




Aristides Theodoro

“Orquídea posta num vaso”
Nicolas Guillén

Vejo ainda
Grudado no chão
A argila mole
Consistente, catarrosa
Com a qual antigos operários
Moldaram a cara da cidade.

Foi daqui que saiu
A louça, a telha o tijolo
E mais tarde o paralelepípedo
Para a construção de outras
Cidades pelo Brasil afora.

A louça made in Mauá
Criou asas e saiu
Ornamentando mansões grã-finas
Desde “Oropa”, França e Bahia.




Toca Filosófica 19/02/2003

Cascata



Cleide Borges




marca
o silêncio de alguns
e dor de outros

paz imposta
num gramado
íngreme

subidas às visitas
pupilas de adeus

a capela inspira
conforto
a fé abalada

abrigos serenos
dialogam

lote 2
quadra C

platéia em flores
dos poros exalam
um coro de amor

brota a vigília
néctar de saudade
cala a sintaxe

terça-feira, 25 de maio de 2010

Arvore

Desagua em mim
Saudade agora é uma lagoa
que brota da terra que me gerou
me deu sede de beber da agua que fertiliza a terra
quem sabe,fazer nascer em mim arvores
genealogias,raizes,galhos troncos
uma porçao de parentes e agregados
avores,galhos troncos,raizes
genealogia sob aos ceus
caem a terra frutos maduros
prontos para refazer o circulo virtuoso

segunda-feira, 24 de maio de 2010

MORTE DA REALIDADE




Quatro velas velam a nua realidade

no fundo espaço frio,

cova do fruto da desilusão

aonde jaz

no eterno vazio.

A vida traz

noite sem luz

noite sem lua,

a carpideira contrita chora

a mão crispada ordenamente

encena o sinal da cruz

depois levanta , olha e vai embora,

afinal a vida continua


E a morte?

Ah! Quem quer saber da morte?


ANDRADE JORGE

direitos autorais registrados


domingo, 23 de maio de 2010

Pedra




"Deus de vez em quando me castiga. Me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra."[Adélia Prado]

terça-feira, 11 de maio de 2010

"sonho com serpentes"

M. C. Escher


Edson Bueno de Camargo

“Sueño con serpientes, con serpientes de mar,
con cierto mar, ay, de serpientes sueño yo.”
(Silvio Rodríguez)


que se envolvem entre si
em carne viva
em exposição
em expiação sangrenta

ninho coleante
e viscoso
gangrena dos ossos
vulcão orgânico e pestilento
de ovos
de larvas
de morte lenta adiada

tenho muitos olhos
tenho muitas bocas
e muitas línguas todas bífidas
o cheiro do medo buscam

sonho que estou vivo
(quando morto)
e andando
não caminho um metro sequer
sufoco em líquido
e meus movimentos são pulmões afogados
me afundam na areia movediça
nada me conduz
sob este céu insano

falo o som das escamas
dos estalidos de pequenos ossos
e palavras
com o fogo feroz
dos olhos animais acuados
fogos fátuos
e versos metálicos da palavra réptil

“sonho com serpentes”
e estas me devoram os olhos

SEXO & CIÊNCIA

As personalidades mais luminosas
da minha época dormem na calçada
entre a droga e o estelionato

Esta não é a terra receptiva
ao Anjo condenado a arrastar a sombra
colhendo as laranjas podres da estrada,
esta é uma terra de igrejas negras
- a monarquia réptil
cintila espadas lavradas dos ossos dos inocentes

Eu encontro a filha do negociante de cabeças
apaixonada pelo rei do tráfico
procurando entendimento e significado,
de ouvido colado no poço
esperando alguma notícia real/
aves descem-lhe docemente pelos suspiros

Por onde quer que eu vá
as pessoas trancam as portas
não querem presenciar
o cumprimento das promessas

O chacal crava a lança
no meio do horizonte, é hora
de encarar as possibilidades

As lágrimas de um anjo revoltado
com a escuridão das almas viciadas
materializam a mulher indecifrada
reinando no mundo baixo dos crimes
patrimoniais perpetuados nas escavações
religiosas cuja lógica é o encontro
do Universo com a modernidade

Rufam os tambores do Paraíso
os anjos de Atlântida
gritam nas celas
e a nova esotérica
é esquecida
porque sexo e ciência
dominam os sentidos

Eu não trago disponibilidades
a perfeição reside no esquecimento

ARABELA

Assim que a manhã nasceu
o coelho dominou o caos
atravessando as torres tortas
da poesia

Nem bem o Anjo brilhou
entre a estrela negra e a dourada
a aranha teceu o pentagrama
dos acordes inaudíveis

que apenas o cão do mago capta
na lógica partida do polichinelo
cujo sorriso é herança do tempo
em que o lápis guiava a aquarela

porém, ainda vivemos pelo encanto
das artes mágicas que Arabela
despeja no sonhos dos peixes,
inventando a tinta pelo sonho

para que o sonho nunca a tinta deixe

segunda-feira, 10 de maio de 2010

TUA FALTA...



imagem de Marilza Abreu


TUA FALTA...


Estou chegando...
Está tão frio aqui fora!
A chuva me faz tremer.
O que posso esperar de você?
Ficarás feliz em me ver?
Ou a saudade não te tocou nem um pouco?
O meu coração bate feito louco!
A ansiedade por te ver...
A saudades que me maltrata...
Estou chegando!
Preciso tanto de um abraço.
Seu... seu abraço...

Kira, Penha Gonçales

ENGANAR-ME! COMO?




imagem google





ENGANAR-ME! COMO?



É dificil quando o coração sente
A alma não mente
Já germinou a semente...

E a tristeza toma conta do peito
Este que não tem mais jeito
Por um amor fora de hora desfeito...

E dos olhos caem lágrimas
Escorrem pelo rosto
Salgam os lábios...

Um soluço
escapa da garganta
Não é que queremos...mas fugir do sentimento
Não podemos...



Kira, Penha Gonçales

terça-feira, 4 de maio de 2010

Arte: André Moreira Bueno de Camargo - Meu Neto.


Edson Bueno de Camargo


crianças deuses /
não deveriam crescer /
não deviam perder /
este fogo pelo olhar /

segunda-feira, 3 de maio de 2010

"O ILUSTRE SORRISO DE UMA ILUSTRE DESCONHECIDA"




Macário Ohana Vangelis




A velha preta africana já não arrasta mais sandálias!...
A cidade ficou mais pobre e mais triste...


A madrasta pátria perdeu mais uma nobre plebéia.


Repousa agora no colo de Nanã?...
Conta causos?...
Colhe flores?...


Colhemos aqui pedra, suores e dissabores.


Não há busto seu de bronze na praça.


Reside ainda na memória do tempo:
As digitais das suas sandálias na calçada,
Sua roupa rota,seus bilhetes (a sorte dançava neles?)
Seu suor, cansado, e o belo riso bondoso dos seus olhos.

PRAÇA 22 DE NOVEMBRO




Deise Assumpção


forma prima esquartejada
(o inexorável)
membros espetados
na memória medram

rodoviária
decibéis de cansaço, pressa, espera
concha acústica reescritura
de antigos versos

simples fonte artificial
a mesma água
da genitora aristocrática
aspersão de fé:
não se corrompe a essência
pode o rio se exorcizar

pequenas árvores
seivam as raízes das primitivas
espectros de futuro e passado
compromissando o Paço

velhos bancos
de reclinar o dorso
furtar beijos de namorados
agora duras muretas-nádegas
de envergar o tronco
olhos-inverno contornando arbustos
que às suas costas engendram flores

(sempre umbigo do universo
cruzando sacros os fios da taba)

SICUT LILIUM



Deise Assumpção

dos corações de pedra
lascas
em dízimo
(as portas do inferno não prevalecerão):

a gruta
pré-adâmica
no miolo da cidade:

recôndito ostensório
da pedra virgem de cor
(serpente calcada aos pés
coroa de doze estrelas)
prenhe

de rostos:
barro arrebatado da multidão esquizofrênica
tecido
na fonte batismal
hóstias de carne e sangue
assim paridas remissas
à fome abissal:

Problemas com o fuso horário?







O ilustrador Sérgio Ribeiro Lemos, o Seri, integra a equipe de arte do Diário do Grande ABC.

http://www.dgabc.com.br/News/14487/pai-de-bigail-e-reconhecido-aqui-e-na-croacia.aspx

domingo, 2 de maio de 2010

Teias

Teias

Em cegos nós
amarro lembranças
a um fio fino
quase invisível
de esperança
de tê-lo um dia
outra vez
entre os meus lençóis

Rosane Oliveira

AH! O AMOR!



imagem google



Ah! O AMOR!

Sempre suave!
Sentimento de carinho...
Entrou devagarinho,
pela fresta que eu deixei.

Entrastes no meu coração,
de mansinho, de mansinho.
Preencheu o espaço vazio
que agora não é mais frio...

Teu sorriso, entontece...
No coração, um sonho tece.
E na Alma...
O Amor acontece.

Kira, Penha Gonçales