domingo, 28 de fevereiro de 2010

Ruínas Morais


Se o Brasil
Não estiver com seu Barril
De pólvora pronto
Para explodir tudo
Vai pra puta que pariu

Aqui nem um ramo de arruda
Será reza para a ruína
Que se aproxima

Em torno do nome Arruda
Não há ajuda
Não há acuda
Será esta a nossa sina?

O Brasil está na fossa e a vala tem nome!

sábado, 27 de fevereiro de 2010

nós feitos de cabelo


Edson Bueno de Camargo


criam aos poucos
uma mulher
de pés e pele
elétricos

a mão em forma de cunha
tulipa antes de abrir
sinal dos deuses
óleo que destila das pontas
(dos pelos)

dedos de pedra azul
céu turvo à tarde
de primavera que reluta o inverno

e a solidão sempre nos encontra
caminhando na rua molhada

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA


- Marcos Roberto Moreira



Meus ancestrais, afim de sobreviverem, caçavam o sua própria comida. Para isso, usavam punhais feitos com pedras pontiagudas e machadinhas que consistiam em lascas de pedras presas a pedaços de madeiras por meio de cipós. Também lanças, arcos e flechas de madeira modelada.

A caçada requeria ainda mais perícia do que a confecção de armas: quando avistavam sua presa, permaneciam silenciosos por uma eternidade, esperando o momento certo de atacar. E se acaso obtivessem sucesso em sua empreita, conservavam o alimento, sabe Deus como, o máximo possível para durar até a próxima caçada.


Eu, quando estou com fome, me dirijo ao caixa de um Fast Food qualquer portando apenas o cartão de crédito. Cinco minutos depois, tenho numa bandeja, em meio a duas bandas de pão, 90 gramas de carne bovina, queijo, alface e um molho especialmente feito para que eu não saiba seus ingredientes.


A vida moderna é chata e monótona, e ao ver o pneuzinho que se acumula em minha cintura, penso que deveria caçar para comer.


sábado, 20 de fevereiro de 2010

Sombrio


Sombra que passa através da sombra
E atravessa a sombra
E a outra sombra
E vai para além da sombra
E rasga a sombra
E entra a sombra

Agora já se assombra
Não há luz dentro deste coração
Apenas mais sombras
É o passado que o assola
É o presente que o esfola
É o futuro sem nada na cola
É apenas mais e mais sombras

Sombra que comanda as sombras
Noites de sombras
Dias de sombras
Nada mais serve
Só sombras à sobra
Só sombras
Minhas obras
Carregadas de sombras
Minha alma pintada com sombras

Estou perturbado demais
Por estas sombras
Sombras
Sombras
Sombras
E até o fim dos dias
SOMBRAS!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

deserto



Edson Bueno de Camargo



formigas carregam
o amarelo
que um dia
foi trazido pelo vento

observado bem de perto
o meio fio
é um deserto de pedras vermelhas
aridez de obstáculos ardentes
tudo é sólido granito

mesmo depois de nossa espécie extinta
as formigas carregarão
as flores caídas na rua



Meu disfarce

Deixo hoje,
o mundo de máscaras
por onde tenho andado.
Onde tudo sou...
mas nada é de verdade!

Hoje retorno,
ao meu mundo de sonhos,
onde disfarço-me da minha verdade,
onde o meu grito ecoa estridente
e a minha máscara é nua e transparente!

Hoje retorno aos meus devaneios,
preencho estas linhas
com os mais insanos anseios.
Declamo minha ira,
relato minhas decepções
e digo ao mundo o meu amor!

São versos tortos,
um misto de palavras sem sentido,
quereres infundados,
sonhos engavetados,
apenas conflitos meus!

Estou pronta!
Hoje deixo o casulo.
E docemente confusa, deslizo
nas linhas deste poema,
abro as asas e lanço vôo...
despida das minhas máscaras,
nua de meus segredos...
disfarçada de mim !

Rosane Oliveira

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

cortes selvagens



Edson Bueno de Camargo


carregar um cometa à boca
entre-dentes estrelas
e cortes selvagens na saliva


toda a palavra contém sangue
de dureza de diamantes negros
pedras profusas da dor


eis a tristeza de dias claros
com bilhas de água
logo à porta


(mata a sede dos) viajantes
percorrem às sombras silenciosas
da noite


hoje amanheci
com uma margarida
plantada no peito


suas raízes frágeis
se estendem por veias
e poças de coágulos


uma flor com o peso de um planeta
com pétalas rindo
como dentes ao sol

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

DAS ESCOLHAS

Não conseguia escolher a melhor roupa para o velório...
Resolveu então desistir do suicídio.

Jorge de Barros

Caminho

Vem por aqui
Eles me gritam
Eu não ouço
Não seguir ninguém é minha regra
Não seguirei ninguém
Meu caminho trilho sozinho
Porque este é só meu
Egoísmo?
Que seja, mais com vocês é que não vou.
Vou sozinho por ali, por ai, por lá.
Mas se me chamarem
Vem por aqui
Por ai não vou
Vou por ali em meio a putas, malandros...
Mendigos aos farrapos
Guiados pela loucura
Loucura de não seguir ninguém
As ruas são largas e escuras
Uma legião de loucos me seguem
Anjos fazem sexo nos becos
Uma lembrança me persegue
Saudades de tempos indos
Alegrias passageiras
Fast-food
Fácil, rápido...
Alegrias poucas
Vem por aqui

Fada

menina banguelinha
Brincava de ser fada
Corria transformando tudo o que tocava com sua varinha de condão
Que alegria estranha é esta que sente?
Ao transformar as coisas a seu redor
Transforma seu mundo
Que é mais seguro e belo de que este de onde a observo
Mágica num falatório com seres mágicos
No seu mundo todos falam a mesma língua
A menina banguelinha brinca de se fazer fada.

...

Depois das reticências
O texto me pertence...
Quero um poema cheio das possibilidades
Um poema terra de ninguém
Onde todos podem fazer o quiser
Quero um poema reticências
Depois das reticências...
O texto é território livre
Terra de ninguém ou de todo mundo
Quero um poema de uma única palavra e três pontos de liberdade...
Reticências...
Quero um poema...
Quero um poema liberdade
Na contra-mão das algemas da academia
Quero um poema obsceno
Quero um poema de versos soltos
Versos fáceis
Quero um poema que se possa ouvir nos becos escuros
Vindos da boca podre de mendigos bêbados e meninos loucos
Quero um poema que se possa dizer antes do orgasmo.
Antes de o corpo verter o sangue virginal
Quero um poema reticências...

Escravos

Serpenteia no ar de encontro às costas largas e macias dos escravos do trabalho o chicote veloz dos Deus Dinheiro.
Feitor avarento e feroz
chicoteia, humilha, impõem
obedecemos....
reclamamos, mas obedecemos....
oh sinhozinho, veja só vós micê, sois dono de tantas almas
milhões de escravos e quantas almas mais se oferecem a preço de banana a tua empreita?
oh sinhozinho, veja só vos micê quanta miséria a tua falta produz.
ah... e que saudade estranha sente o meu povo de ti?
porque almejamos tanto a liberdade sem conhece-la?
homens livres se arrastam da praça da sé no coração de meu estado para a pequena XXII de novembro no centro da minha cidade ou vice e versa.
nômades,vagantes,putas,vagabundos......
isentos de identificação civil,qualificação profissional,taxas,impostos e responsabilidades, a felicidade se arrasta pela praça publica, única propriedade não declarada de meu povo.
Deus Dinheiro estes tu não tens, estes não estão sob teu domínio.
nunca os tiveram como senhor.
senhorzinho veja só vos micê boquiaberto que no berço da miséria imperam outros Deuses e muitos demônios.
porque não?, a dualidade me seduz....
Deus e o Diabo de mão dadas na terra de ninguém
estes vós não dominas sinhozinho.
há muito que nos libertamos de ti e dos que nos traem
se queres a nós vós quereis o bem- então fora daqui com o teu desassossego e castigo-fora que já é tempo.

Circo

Abrem-se as portas para o circo da vida.
Como atração principal: A violência.
Ocupando destaque e ganhando a atenção de todos.
Que estão com medo, tristes e fugindo.
Fogem, trancam-se, enjaula-se, são condenados.
Ao crime de viver no mundo evoluído e civilizado.
Fecham-se as portas para o circo da vida.
O palhaço não faz rir.
As crianças não brincam nem se divertem.
Estão com medo de serem machucadas.
Mas o trabalhador malabarista da vida
Ainda faz malabares na corda bamba da vida.
E os espectadores com os olhos fixos e atentos.
Tentam ver lá ao fundo um pouco de felicidade neste
mundo cruel e de maldades

Saudade

Quando o primeiro instante da saudade se confunde, com o ultimo ato da
conquista tão desejada, palavras calam qualquer fala, e procuram negar
qualquer desconforto sentido.
É exatamente nesta hora da separação necessária, para a qual a vida faz
analogia com o nascer, que os significados do que fazemos, tem um
sentido maior.
O sentido de nos fazer perceber que a vida nos impõe o outro como
convivência necessária e criadora. E indica calada e ao mesmo tempo
ansiosa, que seja breve a descoberta de que o saber é feito por muitas
mãos e o Ser por cada toda emoção.
Mas que também lhe tenha substância superior, cujo éter o eleve a olhar
o caminho do ir e do chegar sem tropeços, que ignorem ao homem, sua
condição de viajante em busca da perfeição.
Agora em que nossos abraços são mais amigos e nossos corações mais
enriquecidos, também é nossa a certeza dos motivos cumpridos!
E como fala o poeta: “... Tudo vale a pena, quando a alma não é
pequena...”

Sobre calor e Baratas



Nas noites quentes
de verão

As baratas
saem dos bueiros

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Fenda no tempo...



Numa tarde
Outonal de janeiro
Tantas primaveras
De eras que eram tempo de afirmação
O ar de hoje em dia
Exala um cheiro estranho

Tanta vida
Embutida dentro da vida
De asa partida
Não pode voar

Mas o tempo
Ainda é tempo de ida...

E essa tarde estranha
Guarda uma fenda
Que se possa enxergar
A entranha da tarde
Enigma do tempo
Maior que a contemplação
Ou o lamento,
É a Inquietação

Que com a brisa da tarde
Traz um silfo no ouvido

Aquela palavra perdida
Na noite dos séculos
Que tento em vão encontrar.
Ederson Rocha

novas palavras


Edson Bueno de Camargo



não inventario novas palavras
estas me inventam
com boca de sede insaciável
e primaveras com dentes

as letras são códigos completos
cada uma
carrega um poema vítreo
olhos de peixes fossilizados
em complexidade

toda a palavra é criação
desde o princípio de tudo
até o último suspiro da matéria escura

desde a água vermelha
que me completa
até as pedras calcárias
produzidas em meus rins

Quartas de tantas intenções



intenções da cidade
trançadas em pés e braços e corpos
bocas e línguas


noite
gatos pardos cantam nos muros


pessoas saem às ruas
amontoam-se nas praças
filas aparecem
para acontecer


a praça
o palco
e o chafariz
rostos vários
sob o mesmo céu


quartas
de tantos crescentes
tantas intenções
cheias de cores
sons



das mesmas fatídicas ladeiras
que repisei
nos arredores do barro vermelho
as flores silvestres sem nome certo
lascivo lábio antropofágico
lapidando o ápice da arte



Criação coletiva
Taba de Corumbê
01/12/2009

The Lonely Clown Of The Stone Heart




















O palhaço pisou firme no asfalto.

Gritou seu grito, um surdo grito.

Partiu para enfrentar o eterno rito

Da queda certa do ponto mais alto.


Agora não há pesar, é irreversível.

É o riso farto num prazer funesto.

Do sórdido riso, do cômico perecível,

Do não entender tal morrer honesto.


É duro o sorriso fétido de pedra,

Estancado no coração frio das feras

No sangue podre que quer pulsar.


E nada se compara a alma do palhaço

Que precipita seu suicídio no espaço

Do sorriso doente de dentes a serrar.


Chris Clown Oliveira


Estreiando no Sarau da TABA com estilo e a mesma cretinice de sempre.